sexta-feira, 27 de junho de 2008

MANDALLA


Em um seminário no qual palestrei no município de Tiquara, na Bahia, pude conhecer a Mandalla. Uma nova forma de cultivo que veio beneficiar o pequeno agricultor que, além de tudo, necessita plantar para sua sobrevivência.

A Mandalla, um projeto criado por um paraibano, pode ser construída até no quintal de uma casa e as hortaliças que serão cultivadas poderão ser comercializadas ou consumidas pelo próprio agricultor. O sistema é simples: mangueira, bomba ligada à energia, contonetes, madeira, cimento, água e outros poucos materiais, são alguns dos ingredientes dessa nova receita que vem sendo utilizada no Nordeste e muito aceita por quem prefere plantar a comprar os produtos em mercados.

De acordo com Elder James, estudante de Geografia e técnico agrícola, com cerca de R$1.300,00 o agricultor pode construir uma Mandalla. Claro que o valor depende da extensão do terreno e da quantidade de culturas, porém, o baixo custo e a facilidade no manuseio servem de atrativos para os habitantes da zona rural.

A Mandalla lembra o sistema solar: o sol (água) fica no meio enquanto os outros planetas (as culturas) formam círculos ao redor dele. A invenção tem como objetivo: não utilizar agrotóxicos na plantação que tanto prejudicam o trabalhador, o consumidor e o solo; e promover a sustentabilidade entre os moradores da zona rural.

Muitas ONGs do semi-árido nordestino, como o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) sediada em Juazeiro, na Bahia, estão utilizando a Mandalla e disponibilizam seus profissionais para capacitar outras pessoas interessadas. “É só organizar uma equipe e agendar uma visita”, diz Elder James.

A água utilizada na Mandalla pode ser a mesma coletada na chuva, facilitando a vida dos agricultores que moram em locais que ficam distantes de rios ou açudes.

Com o pensamento voltado àqueles que sobrevivem de acordo com os recursos naturais da sua localidade, o nordestino mostra a importância de iniciativas nas quais favoreçam a população humilde do campo driblando problemas como o preconceito e as limitações do clima semi-árido.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

RIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL AGORA É O RIO DA POLÊMICA NACIONAL

por Auriane Brito*

Sabe aquela velha história de “acabar com a seca no Nordeste”? E as tais obras faraônicas que unem grandes empresários com interesses políticos? Agora o Rio São Francisco, que já está bastante degradado pelos problemas comuns dos recursos hídricos brasileiros como: esgoto, lixo, má utilização das águas... É assunto de debates constantes na Câmara.
Todos sabem que existem lugares bastantes secos na região Nordeste, mas não devemos esquecer que a seca é um fenômeno natural e é preciso conviver com ela, conforme já citei em textos anteriores. Existem várias alternativas positivas para as conseqüências que a seca traz nas quais foram apresentadas por organizações em defesa do Velho Chico ao governo. Essas alternativas são de baixo custo e eficazes para as famílias que sofrem com a falta de água, porém o governo não dá muita importância.
O projeto da transposição do rio São Francisco foi discutido pela primeira vez em 1818 e foi “esquecido” por falta de estudos aprofundados e de verba suficiente para sua inicialização. Após um tempo, o tema voltou à tona por políticos que querem pressa no projeto.
Lembro-me com clareza do atual presidente Lula respondendo uma pergunta sobre a transposição do S. Francisco. Ele disse com todas as letras: sou a favor da revitalização.
Acontece que para revitalizar um rio tão degradado como o S. Francisco não será do dia para a noite, e não vai adiantar se a revitalização vir junta com a transposição que com certeza trará grandes impactos ambientais.
Para fazer a revitalização de um rio é preciso mais que plantar uma ou duas árvores nas suas margens. E os esgotos, os agrotóxicos que são diretamente jogados no rio sem tratamentos? E educação ambiental aos moradores ribeirinhos que jogam lixo no rio, retiram a mata ciliar para plantação, criação de gado e construções civis?
Rio da Integração Nacional, Velho Chico ou como queiram chamar, agora pertence àqueles que podem pagar por ele. Os terrenos localizados às margens do rio são os mais caros e as construções são as mais luxuosas.
Convido o leitor para refletir sobre o imediatismo político que visa dinheiro público, reeleição e favorecimento das classes altas. Se existe realmente interesse político em ajudar quem sofre com a seca, por que não colocar em prática alternativas baratas e melhorar a educação e saúde da população?
Os nordestinos há tempos não vêem grandes obras que favoreceriam todos saírem do papel. A corrupção está cada vez mais intensa (nem dá mais manchete de jornal) e a desinformação é presente entre os milhares de brasileiros que se dividem entre opiniões sobre o tema da transposição.

Grandes projetos de irrigação, exportadores de produtos cultivados no Nordeste, são incentivados pelo governo; enquanto os nordestinos comem as piores frutas produzidas, principalmente por falta de fiscalização e exigências dos órgãos internos.

Já está na hora dos brasileiros abrirem os olhos para o destino que os “poderosos” estão dando aos recursos naturais. Por isso leitor, não deixe de expressar sua opinião e suas dúvidas. Leia todos os textos (a favor ou contra) de forma crítica, porque ninguém é obrigado a aceitar tudo calado.
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* professora de Geografia e colunista do JP